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No rastro das vozes da noite - O biólogo alemão Axel Kwet mergulha na escuridão do Sul para estudar a fauna anfíbia (por Elton Werb) - Zero Hora, Porto Alegre, domingo, 07/12/1997

Biólogo alemão estuda os sapos do estado. Pesquisa do herpetólogo Axel Kwet já resultou na descoberta de novas espécies de anfíbios do Rio Grande do Sul

Quando cai a noite, centenas de sapos iniciam sua costumeira e ensurdecedora cantoria na lagoa. É a senha para o biólogo Axel Kwet deixar de lado seu computador pessoal no qual armazena mais de 1,5 mil publicações sobre anfíbios, vestir uma especie de calça impermeável e, com uma lanterna presa à cabeça, um microfone e um gravador, se embrenhar na escuridão dos Aparados da Serra. O pequeno facho de luz ilumina o caminho, mas esse alemão de 32 anos e quase dois metros de altura se guia mesmo é pelo coaxar das mais barulhentas criaturas noturnas. Experiente, Kwet logo identifica cada um dos cantores. "Tem seis espécies diferentes cantando aqui", diz, enumerando cada uma delas depois de ouvir por alguns segundos a sinfonia que ele passará a madrugada registrando no seu gravador.

Fascinado por sapos desde que se lembra (aos cinco anos, para desespero da mãe, já colecionava os animais em casa, na sna cidade natal, perto de Stuttgart, no sul da Alemanha), Kwet não entende por que as pessoas geralmente não gostam dessas pequenas, úmidas e dóceis criaturas. "São seres fabulosos", diz. Kwet transformou a paixão em profissão e virou herpetólogo, um biólogo que se dedica ao estudo da herpetofauna (do grego herpeto, que significa algo como animal que anda no chão).

O Interesse por sapos levou Kwet a percorrer boa parte do mundo fotografando, gravando e estudando esses animais. "Já fiz mais de 20 mil fotos de anfíbios", afirma. Em 1995, ele desembarcou em Porto Alegre, como aluno da universidade alemã de Tübingen, para iniciar seu doutorado, um trabalho sobre a familia Hylidae, cujos integrantes são mais conhecidos como pererecas.

Kwet ficou três meses no estado, fazendo anotações, retornou para a Alemanha e na primavera de 1996 estava de volta, para concluir suas pesquisas de campo numa área do Projeto Pró-Mata, uma reserva para estudos e preservação que a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) criou no interior do município de São Francisco de Paula.

Kwet parece seguir as pegadas de um outro alemão, Reinhold Hänsel, o primeiro a se preocupar com os sapos do sul do Brasil. Em 1867, Hensel catalogou 2 espécies. "Já é quase uma tradição", brinca Kwet, que em um ano de trabalho ajudou a ampliar o conhecimento sobre os anfíbios do Rio Grande do Sul. Nesse período, ele identificou 31 espécies na área do Pró-Mata e 20 em outras regiões do Estado. Destas, algumas já tinham sido catalogadas décadas atrás, mas depois nunca mais foram citadas até serem redescobertas por Kwet. Quatro delas eram ainda desconhecidas: a Phrynohyas imitatrix, a Hyla microps, a Pseudis sp. nov. e uma raríssima perereca de cor azulada e barriga vermelha que Kwet batizou de Elachistocleis erythrogaster. Ele conseguiu fotografar uma única vez um casal e transformou a descoberta em um artigo que será publicado nas próximas semanas por uma revista especializada européia.

Falando um português carregado de sotaque, que aprendeu com uma namorada gaúcha, Kwet sonha voltar ao Estado depois de concluir seu doutorado na Alemanha "Lá não há mais o que pesquisar'', diz. O rio Grande do Sul, ao contrário, oferece um número maior de anfíbios, muitos ainda por catalogar. Os levantamentos mais recentes, datados do inicio dos anos 80, resultaram numa relação de 65 espécies de anfíbios conhecidas no Estado. Esse número, no entanto, pode: chegar a 80.

Os coloridos e barulhentos cantores dos banhados
Sapos, rãs e pererecas são seres anfíbios, que colocam seus ovos na água e ali vivem os seus primeiros dia, na forma de girinos. No Rio Grande do Sul estima-se que existem perto de 80 espécies. A mais conhecida é a Bufo ictericus, da família Bufonidae. "É esse que aparece com freqüência nos jardins de nossas casas", explica Axel Kwet.

O ictericus é o unico que, a rigor, poderia ser chamado de sapo. A maioria das espécies não tem uma denominação popular, a não ser casos como Hyla faber, o sapo-ferreiro, que ganhou esse nome devido ao som de seu canto, parecido com um martelar de ferreiro. O ferreiro, no entanto, nao eé sapo. Pertence a família das Hylidae, o que o torna uma perereca - as rãs formam uma terceira família, a Leptodactylidae. O icteritus e o faber estão também entre os maiores anfíbios do Estado.

Na outra ponta aparecem a minúscula Hyla microps, de apenas 1,5 centímetro de tamanho, e a Hyla minuta, que atinge no maximo 2,5 centímetros, mas canta com a potência de um José Carreras. Cantar, aliás, é a coisa mais importante na vida de um sapo. Só os machos cantam, com o objetivo principal de atrair a fêmea. O canto é também a assinatura de cada espécie. As vezes parecidíssimas visualmente, elas só se distinguem pelo coaxar completamente diferente e que funciona como uma impressão digital.

O contrário ocorre com as cores, que os anfíbios mudam constantemente, como recurso de camuflagem para se esconder de predadores e caçar suas presas, ou para atrair o sexo oposto. "Alguns ficam vermelhos ou marrons de dia e amarelos e fosforecentes à noite, quando chega a hora de atrair as fêmeas", conta Kwet.